APRENDENDO A DESAPRENDER

 

Passamos a vida inteira ouvindo os sábios conselhos dos outros. Tens que aprender a ser mais flexível, tens que aprender a ser menos dramática, tens que aprender a ser mais discreta, tens que aprender… praticamente tudo.
Mesmo as coisas que a gente já sabe fazer, é preciso aprender a fazê-las melhor, mais rápido, mais vezes. Vida é constante aprendizado. A gente lê, a gente conversa, a gente faz terapia, a gente se puxa pra tirar nota dez no quesito “sabe-tudo”. Pois é. E o que a gente faz com aquilo que a gente pensava que sabia?
As crianças têm facilidade para aprender porque estão com a cabeça virgem de informações, há muito espaço para ser preenchido, muitos dados a serem assimilados sem a necessidade de cruzá-los: tudo é bem-vindo na infância. Mas nós já temos arquivos demais no nosso winchester cerebral. Para aprender coisas novas, é preciso antes deletar arquivos antigos. E isso não se faz com o simples apertar de uma tecla. Antes de aprender, é preciso dominar a arte de desaprender.
Desaprender a ser tão sensível, para conseguir vencer mais facilmente as barreiras que encontramos no caminho. Desaprender a ser tão exigente consigo mesmo, para poder se divertir com os próprios erros. Desaprender a ser tão coerente, pois a vida é incoerente por natureza e a gente precisa saber lidar com o inusitado. Desaprender a esperar que os outros leiam nosso pensamento: em vez de acreditar em telepatia, é melhor acreditar no poder da nossa voz. Desaprender a autocomiseração: enquanto perdemos tempo tendo pena da gente mesmo, os demais seguiram em frente.
A solução é voltar ao marco zero. Desaprender para aprender. Deletar para escrever em cima.
Houve um tempo em que eu pensava que, para isso, seria preciso nascer de novo, mas hoje sei que dá pra renascer várias vezes nesta mesma vida. Basta desaprender o receio de mudar.

Martha Medeiros

Japão: Meu dia a dia e minha história neste país

Hoje vim aqui para falar um pouco de minha vida como imigrante neste país.

Diferente de muitos decasséguis eu e minha família nunca vivemos aqui só com intuito de trabalhar ganhar dinheiro e voltar correndo pro Brasil, pois quando cheguei aqui meu marido já estava aqui a 2 anos e já não tinha vontade ou pressa de ir embora, pois encontrou aqui algo que não tínhamos no Brasil.

E o fato de trabalhar muito e muitas horas, não era novidade pra ele, pois começou a trabalhar muito cedo, e nunca deixou faltar nada a nossa família. Até ficar desempregado depois dos 40 anos e ai, ficou difícil naquela época conseguir um novo emprego e ainda mais que nos proporcionasse o mesmo Padrão de vida que tínhamos até então.

Eu tinha um sonho de crescer profissionalmente no Brasil, e achava que não precisaria sair para conseguir, então por isso fiquei e tentei por 2 anos e me decepcionei e acabei admitindo a idéia de vir para o Japão ou acabar meu casamento, escolhi vir e tentar .

E afinal após um ano trabalhando e vivendo em cidades diferentes começamos tudo de novo, eu trabalhava a semana inteira e nos finais de semana ia visitar meu marido, pois ele não podia freqüentar meu apartamento, porque dividia com mais 2 pessoas , da mesma idade que eu mais muito diferente, uma solteirona frustrada e uma divorciada recalcada ou vice versa , só sei que não permitia a visita de homens no apartamento, era uma regra também da empreiteira.

Assim era como se tivéssemos namorando outra vez e confesso que foi muito bom para nosso casamento, então após 1 ano resolvemos que deveríamos trazer nossos filhos e eles também queria muito conhecer o Japão.

Diante disso e também a preocupação de eles ter ficado no Brasil morando sozinhos, apenas com meus pais morando perto, ainda mais, sabendo dos perigos de serem adolescentes em contacto com pessoas que talvez trouxessem problemas para eles, resolvemos trazê-los.

Então alugamos uma casinha e todos fomos morar juntos, é claro que foi pouco complicado nos primeiros tempos, pois meu marido ainda trabalhava muito longe e viajava todos os dias 126 km ida e volta. E eu e minha filha trabalhamos juntas na mesma empresa que ficava bem próxima a nossa casa, e assim começamos nossa vida em família aqui e encontramos o equilíbrio que não tínhamos, com isso pudemos ajudar nossos pais no Brasil, ou seja, eu ajudava meus pais e ele ajudava a mãe, já viúva.

Fomos uma vez no Brasil depois disso, mas não encontramos razão para voltar a não ser pela falta de pessoas como pai e mãe. Mas hoje a tecnologia nos deixa mais perto daqueles que não queremos esquecer, por isso falo com meus pais todos os dias e participo sempre que posso de tudo, e temos longas conversas e até tomamos uma cerveja juntos como se estivéssemos no sofá da nossa casa jogando conversa fora, por que isso não tem preço.

Assim hoje diferente de outras pessoas que vieram ao Japão procurar ganhar mais dinheiro, nos procurávamos a paz e tranqüilidade e harmonia que não tínhamos no Brasil, meus filhos tem medo de voltar, pois sabem que não conseguiriam ou que seria muito difícil viver como vivemos aqui, pois temos uma vida tranqüila, não somos ricos e nem temos tudo , mas temos o mais importante, e nem os terremotos os tufões que tem aqui assusta tanto quanto perder esse nosso tesouro.

Morrer!!!! Todos vão um dia e ninguém sabe quando e como, eu sei que tem gente que saiu correndo daqui quando teve o terremoto, foi para o Brasil e foi morto pela bala do revolver de um assaltante no aeroporto e outro um acidente de carro.

Então apesar de ter vivido a experiência do terremoto de 11 de março e ter ficado em abrigo durante 3 dias e mais uma semana na casa de uma amiga sem saber se voltaria para casa, mas estou aqui em minha casa e nada mudou, enquanto estive fora, ninguém entrou em minha casa e nem mexeu em nada estava intacta quando voltei, isso também não tem preço.

Pode ser que um dia eu volte a morar no Brasil, pois ninguém pode dizer nunca, mas certamente esses anos aqui será alguns dos melhores anos da minha vida.