Depois de residir a nove anos no Japão,
o que mais me impressionou do povo Japonês:
Foi como lidar com as diferentes situações do dia a dia, aqui existe muitos terremotos e tufões, e as pessoas sempre se
colocar à serviço e disposição do grupo, das outras pessoas, da natureza e as pessoas são educadas para suportar as
dificuldades e superá-las. Os eventos de 11 de Março, no Nordeste japonês, surpreenderam o mundo de duas maneiras.
A primeira pela violência do tsunami e dos vários terremotos, bem como dos perigos de radiação das usinas nucleares
de Fukushima. A segunda pela disciplina, ordem, dignidade, paciência, honra e respeito de todas as vítimas.
Filas de pessoas passando baldes cheios e vazios, de uma piscina para os banheiros. Nos abrigos, a surpresa das repórteres do mundo inteiro, pois ninguém queria tirar vantagem sobre ninguém. Compartilhavam cobertores, alimentos, dores, saudades, preocupações, cada qual se mantinha em sua área. As crianças não faziam algazarra, não corriam e gritavam, mas se mantinham no espaço que a família havia reservado.
Não furaram as filas de supermercados ou de combustíveis ou mesmo de água, pois em muitos lugares não tinha energia nem gás e nem água, e nem para assistência médica, mas todos esperaram sua vez, usar o telefone, receber atenção médica, alimentos, roupas e escalda pés singelos, com pouquíssima água.
Compartilharam também do resfriado, da falta de água para higiene pessoal e coletiva, da fome, da tristeza, da dor, das
perdas.
Nos supermercados lotados e esvaziados de alimentos, não houve saques. Houve a resignação da tragédia e o
agradecimento pelo pouco que recebiam. Acompanhando as transmissões na TV e na Internet pude pressentir a atenção
e cuidado com quem estaria assistindo: mostrar a realidade, sem ofender, sem estarrecer, sem causar pânico.
As vítimas encontradas, vivas ou mortas eram gentilmente cobertas pelos grupos de resgate e delicadamente transportadas para as tendas do exército,ou para hospitais, de ambulâncias, helicópteros, barcos, que os levariam a
hospitais. víamos os exagero das notícias internacionais. Aprendemos com essa tragédia o que: a vida é transitória,
nada é seguro neste mundo, tudo pode ser destruído em um instante e reconstruído novamente.
Os movimentos das placas tectônicas não tem a ver com sentimentos humanos, com divindades, vinganças ou castigos.
O que podemos fazer é cuidar da pequena camada produtiva, da água, do solo e do ar que respiramos.
E isso já é uma tarefa e tanto.
Aprendemos com o povo japonês que a solidariedade leva à ordem, que a paciência leva à tranqüilidade e que o
sofrimento compartilhado leva à reconstrução. Esse exemplo de solidariedade, de bravura, dignidade, de humildade, de
respeito aos vivos e aos mortos ficará impresso em todos que acompanharam os eventos que se seguiram a 11 de Março.
Meus respeitos, minha ternura e minha imensa tristeza em testemunhar tanto sofrimento e tanta dor de um povo que
aprendi a amar e respeitar a paciência e persistência do povo japones. Por isso quando tanta gente pensa em ir embora
eu penso que se nesta hora que esse povo mais precisa da gente para reconstruir tudo e recomeçar, não devo abandonar
tudo e fugir, essa e hora de arregaçar as mangas e lutar.